A doença inflamatória do intestino (DII) é uma doença autoimune composta por uma série de alterações inflamatórias crónicas do trato gastrointestinal, onde a doença de Crohn (DC) e a colite ulcerosa (CU) são as duas formas mais frequentes de expressão desta patologia.
Embora a DC e a CU sejam similares clinicamente, a nível fisiopatológico são doenças diferentes: a DC pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal (desde a boca até ao ânus) ao passo que a CU apenas afeta o Cólon e/ou reto. Ambas podem ser dolorosas e incapacitantes, sendo que por vezes dão origem a complicações graves que afetam significativamente a qualidade de vida dos doentes. (1,2)
As causas da DII são complexas e pouco conhecidas. No entanto, aponta-se que a interação entre o sistema imunitário, o meio-ambiente e a genética de cada indivíduo podem desempenhar um papel determinante para o despoletar da doença. Stress, infeções, tabagismo e apendicectomia são alguns dos fatores que podem estar relacionados com o aparecimento e evolução da DII. Esta pode aparecer em qualquer idade, sendo que na maioria dos casos os doentes são diagnosticados na segunda ou terceira década de vida.(6)
A DII é uma patologia que está fundamentalmente associada à sociedade ocidental, estando mais presente nas zonas desenvolvidas da Europa e da América do Norte e menos presente na Ásia e no Médio Oriente. (3) Os dados de incidência e prevalência da DC e da CU variam de país para país(3), mas estima-se que na Europa a prevalência da DC pode ir até 1 em cada 310 pessoas e na CU até 1 em cada 198 pessoas.(3,4)
Em Portugal, de acordo com um estudo de prevalência da DII realizado em 2010, verificou-se um aumento de 68/100.000 doentes em 2003 para 146/100.000 doentes em 2007. Individualmente para a CU, a prevalência aumentou de 42/100.000 doentes em 2003 para 43/100.000 doentes em 2007. Para a DC, a prevalência aumentou de 71/100.000 doentes em 2003 para 73/100.000 doentes em 2007.(5)
Apesar da DC e da CU apresentarem quadros clínicos específicos, estas duas patologias têm vários sintomas em comum. Destes, os mais frequentes são os sintomas gastrointestinais que podem variar conforme a localização da doença: dor abdominal, diarreia com/sem muco, perda de peso, prisão de ventre, úlceras, debilidade, cansaço, febre e falta de apetite. Adicionalmente, podem também aparecer manifestações extra-intestinais (embora com menor frequência): lesões da pele, dor nas articulações, inflamação dos olhos, e cálculos (pedras) nos rins ou na vesícula. (6)
Uma vez despoletada a DII, esta patologia é caracterizada por ser crónica, evolutiva e associada a crises de intensidade e duração muito variável, definindo-se esta fase como a fase ativa. Esta fase vai alternando com períodos de remissão clínica de duração variável, que se define como a fase inativa. No que toca a evolução da doença, de uma forma geral, esta vai desde a doença leve, passando a uma fase de doença moderada e culminando numa fase de doença grave. (7)
Uma das complicações mais prevalentes da DC são as fístulas perianais, afetando cerca de um terço dos doentes e que tende a aumentar com a duração da doença. Estas consistem em canais anormais que se formam entre o intestino e a zona que rodeia o ânus causando grande desconforto. As fistulas perianais da DC resultam de um ambiente fisiopatológico complexo e podem ser classificadas como simples ou complexas. Uma fistula simples pode ser superficial, ter apenas um orifício externo e não exibir indícios da existência de abcessos, estenoses e/ou envolvimento retovaginal. Uma fistula complexa ao contrário da simples, é uma fistula mais profunda que pode exibir múltiplos orifícios externos, sinais sugestivos de abcessos, estenoses e/ou envolvimento retovaginal. Em adição ao facto de serem das complicações mais prevalentes da DC, as fistulas perianais são também as complicações que mais afetam a qualidade de vida dos doentes e que requerem abordagem terapêuticas especificas. Doentes com fistulas perianais da DC podem experienciar dor anal ao defecar, sangramento anal, secreções de pús e incontinência fecal, levando ao comprometimento da qualidade de vida social e sexual podendo inclusivamente culminar com o desenvolvimento de quadros depressivos. (2,8,9)
O tratamento da DII tem como objetivo induzir e manter a remissão da doença bem como alargar os períodos de tempo nos quais os doentes não têm sintomas nem episódios agudos da doença. A ausência de um tratamento curativo e a diferente evolução que esta doença pode ter dependendo do doente, justifica a necessidade de novas opções terapêuticas que consigam reduzir os sintomas e permitam obter a remissão clínica. Devido à natureza complexa das fistulas perianais da DC, estas exigem uma abordagem especializada e frequentemente multidisciplinar com a combinação de terapêutica médica e cirúrgica para a obtenção de maiores taxas de remissão das fistulas perianais da DC. (2,7)
Última atualização: Novembro 2021
C-ANPROM/PT/CORP/0228, November 2021